quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Os movimentos sociais transformaram a América Latina

O Pe. Ermanno Allegri, um italiano que está no Brasil há bastante tempo, é o fundador e atual diretor executivo da Agência ADITAL de Notícias. O trabalho da agência visa difundir as informações sobre os movimentos sociais e instituições com trabalhos no campo da ação social, que ficam escondidos. “Se hoje a América Latina é o que é deve-se exatamente a esse trabalho de formiga, às vezes escondidos, que quase não era considerado, mas que foi andando feito fogo de monturo”, diz o Pe. Ermanno.

A Ordem: Pe. Ermanno, como e por que surgiu a ideia de criar a Agência Adital?
Pe. Ermanno: A ideia veio como proposta de um grupo interessado na comunicação, na Itália, através do Frei Beto. Chegou a mim, lá em Fortaliza-CE, onde havíamos conseguido montar uma agência local, entre 1995/96 – ANOTE (Agência de Notícias Esperança) que era para difundir para a imprensa as notícias das pastorais e movimentos sociais. Extrapolamos o Ceará e quando veio a proposta do Frei Beto e nós começamos, em 2000. O trabalho era financiado por um empresário, através de uma Fundação dele. Começamos dentro do espírito de fazer com que a comunicação, os conteúdos fossem divulgados a partir dos movimentos sociais, populares, pastorais sociais, movimentos indígenas etc. De fato, o começo foi um grande contato com tudo o que era movimentos sociais na América Latina e Caribe. Descobrimos, sobretudo, a partir do Fórum Social Mundial (uma ótima coincidência), quando apareceu o protagonismo dos Movimentos Sociais da América Latina e do Caribe. Foram esses movimentos sociais que transformaram a América Latina. Se hoje a América Latina é o que é deve-se exatamente a esse trabalho de formiga, às vezes escondidos, que quase não era considerado, mas que foi andando feito fogo de monturo, até que apareceu e hoje temos uma América Latina radicalmente diferente daquilo que era há 15 ou 20 anos atrás.

A Ordem: Hoje, que avaliação faz da Agência?
Pe. Ermanno: Passamos períodos muito duros, entre 2002 a 2008. Tínhamos uma jornalista só, dos sete que tínhamos, devido à falta de recursos, com a falência do financiador. Hoje, olhando para trás, vemos um elemento interessante: havia pessoas que acreditavam na proposta. Por isso, mesmo com o “fôlego curto”, continuamos a qualidade da informação. Acho que se pode dizer que chegamos a uma mala direta diária de segunda a sexta-feira, de quase 90 mil pessoas, no mundo todo, que recebem estas informações. Em 2011 chegamos a quase 20 milhões de páginas lidas, só a página do site de Adital, fora os milhões fora da Adital. Acho que muita gente que lê Adital conseguiu criar uma visão diferente. Um dos testemunhos que temos, de uma peruana, que trabalha numa agência de financiamento na França, é interessante. Ela diz que depois de dois anos que lê Adital tem uma visão diferente da América Latina. É isso que queremos com a agência.

A Ordem: Qual é a sua visão, hoje, da comunicação na Igreja Católica, no Brasil?
Pe. Ermanno: Se eu fosse fazer um balanço geral, diria, em primeiro lugar, que a Igreja Católica tem um instrumental que é fantástico, do ponto de vista de possibilidades. Cada Diocese, cada paróquia, cada comunidade, cada grupinho, tem um jornal, um blog, uma rádio, uma televisão. Mas fico triste quando começo a analisar esses instrumentos. O uso tem falhas terríveis. Esses instrumentos não contam com profissionais capazes e que sabem o que é comunicação. Às vezes as pessoas que a Igreja coloca são incompetentes, não por culpa delas, mas porque foram colocados lá pela paróquia ou pela diocese, sem que esta saiba como fazer o trabalho. E essas pessoas sofrem com isso. Se chegamos a esse ponto, então para que ter meio de comunicação? Mas há um elemento interessante. Ultimamente, e acho que estes MUTICOMs ajudam, há áreas que estão se capacitando mais. Às vezes é só técnica, e isso é importante, mas é só uma parte. É preciso se profissionalizar.

A Ordem: Que contribuições os Mutirões podem dar para melhorar essa comunicação na Igreja?
Pe. Ermanno: Podem ser uma oportunidade muito boa de reflexão e de dar passos significativos. Já participei de dois. As oficinas, os grupos de trabalho, me deixaram admirados por que são uma riqueza. Neles tem pessoas que, às vezes sem recurso e de pouca competência, são pessoas que querem. Então, por que não acreditar não confiar nessas pessoas, se eles têm a vontade? Acho, então, que os Mutirões são oportunidade de fazer avaliação. Por exemplo: nos últimos quatro ou cinco anos, o que mudou no nosso boletim, no nosso programa de rádio, na nossa televisão? Avaliar no sentido de crescer, de dar mais conteúdo e de se espalhar mais. Porque, às vezes, quase que temos o complexo de que esses meios pequenos devem permanecer raquíticos. Quem disse que um jornal de Diocese ou de sindicato não pode crescer? Devemos pensar grande para que nossos conteúdos, nossa mensagem, possam se aprofundar e chegar às pessoas.

A Ordem: Qual é a visão que tem do tema “Comunicação e Participação Cidadã: Meios e Processos”?
Pe. Ermanno: É um tema que, sinceramente, me entusiasma. Quando se fala de participação cidadã na comunicação vemos que a comunicação pode ser um instrumento fantástico para o crescimento das pessoas. Acho que cada tipo de instrumento deve procurar a participação cidadã diferenciada. Como procuro a participação das pessoas no boletim da paróquia ou da diocese, ou do sindicato, ou no programa de rádio ou de televisão. É diferente. Mas, participação que dizer que você participa do programa, do meio, mas também vice-versa. Como nós ajudamos as pessoas a participar da vida social, da vida política. A segunda parte do título fala de meios e processos. Então, qual é o processo que podemos desencadear em cada meio de comunicação para chegar a chegar a ver o meio que temos e como esse meio pode crescer e se diferenciar? Acho até que esse tema daria para fazer um MUTICOM não de dois ou três dias, mas de um mês!

Fonte: Muticom

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