Nossa sociedade está cada vez mais doente: já não suportamos ficar incomunicáveis
Padre Carlos Padilla
Às vezes, é bom parar um pouco e ver nossa vida com outra perspectiva. Por isso, é útil desconectar-nos e fazer silêncio, ainda que seja somente durante um final de semana. Estamos vivendo a Quaresma, um período de deserto no qual Deus se adentra e espera o ser humano. Cabe a nós silenciar, aguardar, buscar, esperar.
É verdade, o deserto assusta. Deixar as coisas que nos atam. E uma dessas ataduras pode ser precisamente a nomofobia, a adição ao celular, a estar comunicável o tempo todo. Segundo os especialistas, o medo de ficar sem o telefone pode ser diagnosticado como um transtorno que atinge grande parte da população, sem que os afetados sejam conscientes disso.
Quem é capaz de deixar o celular em casa e não sentir um desejo incontrolável de voltar para pegá-lo? Quem já ficou sem bateria durante uma tarde e não teve a sensação de estar inacessível?
Quem saiu sem o celular e depois ficou achando que precisamente naquelas horas poderia receber uma ligação importante? Quem saiu do cinema ou do teatro e imediatamente já começou a revisar os torpedos e ligações perdidas?
Sim, ainda que seja difícil reconhecer, estamos um pouco doentes em relação ao celular, às redes sociais, os torpedos, as ligações. Não suportamos estar incomunicáveis.
É verdade, nem todos estão tão enfermos, mas também é certo que poderíamos viver com mais liberdade. A dependência do celular pode nos escravizar.
Conheço um restaurante que expõe um aviso na parede: “Aqui não há wi-fi. Aproveitem para conversar”. É realmente impressionante ver um grupo de pessoas sentadas à mesa, mas cada uma mexendo no próprio celular. É a comunicação que nos incomunica da realidade presente.
Não aguentamos ficar sem estar em relação com os outros, mas depois temos muita dificuldade para entrar em relação com as pessoas que temos ao nosso redor, para falar de temas profundos, para abrir o coração e contar sobre nós.
Fonte: Aleteia
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