terça-feira, 22 de abril de 2014

Padre Clóvis de Melo Andrade fala sobre o Diretório de Comunicação para a Igreja

Após mais de 13 anos de pesquisas, análises e práticas de comunicação, o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aprovou o Diretório de Comunicação para a Igreja no Brasil. O documento tem como principal objetivo motivar a Igreja para a reflexão sobre os aspectos da comunicação e sua importância na vida da comunidade eclesial.
O Diretório será apresentado no 4º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação e 2º Seminário Nacional de Jovens Comunicadores, que serão realizados de 24 a 27 de julho, em Aparecida (SP).
O Jornal Santuário entrevistou o assessor da Comissão para Comunicação da CNBB, padre Clóvis de Melo Andrade. Ele conta que entre as novidades do Diretório estão as diferentes reflexões sobre os aspectos da comunicação, que incluem as mídias digitais. Ao final de cada capítulo são propostas pistas de ações com sugestões de atividades para formação, articulação, produção e espiritualidade da Pastoral da Comunicação.
Jornal Santuário de Aparecida – Como surgiu a necessidade de criar o diretório para a comunicação?
Padre Clóvis de Melo Andrade – O Diretório para a Comunicação da Igreja no Brasil teve como motivo principal para ser elaborado a consolidação – no plano da prática pastoral – dos resultados da longa caminhada da comunidade eclesial, iniciada há cinco décadas, quando o Concílio Ecumênico Vaticano II fez opção por uma comunicação aberta ao diálogo com a sociedade e suas tecnologias, através do decreto Inter Mirifica publicado em 1963.
JS – Qual o principal objetivo do documento?
Padre Clóvis – O Diretório destina-se especificamente aos responsáveis pela formulação e pela condução das práticas de comunicação nos diferentes âmbitos da vida eclesial e as relações da Igreja com a sociedade, em especial com o mundo da mídia. Nesse sentido, o Diretório reúne e disponibiliza referenciais teológicos, éticos, políticos e pastorais destinados à reflexão de suas lideranças e ao exercício de uma gestão da comunicação compatível com as necessidades de suas comunidades e com sua missão evangelizadora. Os conteúdos dos diferentes capítulos passam a servir como base de sustentação para a formação dos sacerdotes, religiosos e leigos, oferecendo elementos para a produção de subsídios multimidiáticos que, através de uma linguagem simples e apropriada, fortaleçam a pastoral da comunicação em todos os seus níveis e projetos.
JS – Podemos dizer que a cultura da comunicação já está enraizada na Igreja do Brasil?
Padre Clóvis – O Documento chega no momento em que a Igreja é interpelada pelas mudanças trazidas à sociedade contemporânea, ou seja, pela revolução digital, tema tratado com vigor pelo Santo Padre Bento XVI, em suas últimas Mensagens destinadas a celebrar, anualmente, o Dia Mundial das Comunicações, tais como: A mídia: rede de comunicação, comunhão e cooperação (2006); As crianças e os meios de comunicação social: um desafio para a educação (2007); Os meios de comunicação social: na encruzilhada entre protagonismo e serviço. Buscar a verdade para partilhá-la (2008); Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade (2009); O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra (2010); Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital (2011); Silêncio e palavra: caminho de evangelização (2012) e Redes Sociais: portais de verdade e de fé, novos espaços de evangelização (2013).
O conjunto destas e outras Mensagens cria, na verdade, um roteiro de reflexões que permitem maior reflexão e que vem provocar na Igreja mudança de mentalidade e de relações. No entanto, não podemos dizer que na Igreja a cultura da comunicação pode ser identificada de forma explícita, mas existe um grande esforço e dedicação e para que isso aconteça e o Diretório é um dos projetos da Igreja que vem confirmar esta intenção.
Assim, a comunicação na Igreja é entendida como um processo social, a serviço das relações entre homens e mulheres (Mensagem de 2009), favorecendo a comunhão e a cooperação entre as pessoas (Mensagem de 2006). Nesse sentido, tanto os tradicionais meios de comunicação social, quanto as novidades trazidas pelo emergente mundo da Internet devem colocar seu protagonismo a serviço da promoção de uma cultura de respeito, diálogo e amizade (Mensagem de 2009).
JS – Como foi a pesquisa e quais os principais desafios para elaborar o documento?
Padre Clóvis – Para tanto, o Diretório esteve atento aos processos e meios de comunicação e às mudanças culturais provocadas pelas tecnologias que se fazem presente no dia a dia da sociedade contemporânea, identificadas e reconhecidas por diversos autores como a “sociedade da informação e da comunicação”. Igualmente, lançou um olhar sobre a própria Igreja, uma Instituição complexa em sua estrutura e em suas múltiplas ações, animada, contudo, por um mesmo e grande ideal, que é a mística missionária.
Portanto, a pesquisa teve presente os documentos da Igreja, os estudos e pesquisas na área da comunicação e as práticas comunicativas vividas e experienciadas pelas comunidades e grupos. Considerou, também, o universo da comunicação, que abrange as distintas dimensões da realidade humana, enquanto o universo da pastoral que envolve a dimensão socioeclesial, relacionada aos diferentes ambientes da Igreja em sua missão de evangelizar.
JS – Pode falar um pouco sobre os capítulos do Diretório?
Padre Clóvis – Para atender seus objetivos, o Diretório é composto por um conjunto de dez capítulos, divididos em artigos, que buscam dar conta dos diferentes aspectos do fenômeno comunicativo relacionado com a prática pastoral. O texto não tem a pretensão de ser um conjunto de normas a serem seguidas, muito menos, um manual introdutório à prática comunicativa. A contribuição que oferece à Igreja é essencialmente de caráter indicativo e motivador. O texto está atento aos apelos da Santa Sé no sentido de que seja promovido, em todas as instâncias da Igreja, um processo de estudo e reflexão sobre os desafios que as novas condições civilizatórias trazem para a sua missão evangelizadora.
JS – Considera que a comunicação tem um futuro promissor na Igreja?
Padre Clóvis – Cabe às dioceses e paróquias, assim como às diferentes pastorais, movimentos e às mídias católicas, apropriar-se do Diretório, estudá-lo em cada um de seus capítulos, confrontando suas proposições com a realidade local, e, a partir dessa reflexão, definir as modalidades das ações requeridas pelo tipo de intervenção comunicativa necessária para solucionar as questões levantadas pelos respectivos planejamentos.
Fonte: A12

Nenhum comentário: