A imagem projetada é a de um jovem casal que está se olhando. Ambos estão tristes, enquanto ela reclama que lhe falta atenção. Em seguida, ele coloca a mão sobre a dela e vira-a de um lado para o outro, de modo mecânico, para depois fazer “dois cliques” como único carinho… O público ri. Com este pequeno vídeo de motivação – também de constatação –, foi inaugurado no dia 28 de dezembro o seminário “internet na vida do presbítero”, organizado pelo Instituto de Terapia Cognitivo Interpessoal de Roma e o Pontifício Colégio Internacional “Mater Ecclesiae”.
Serão dois dias para estudar os benefícios e também os riscos do uso da internet na formação dos seminaristas, bem como na forma como se deve lidar com os “novos” pecados dos usuários, que fizeram da “rede” um espaço desordenado para a sua vida afetiva, laboral e moral.
De acordo com a Dra. Michela Pensavalli, psicóloga e psicoterapeuta, bem como professora universitária e coordenadora do Instituto promotor do evento, é muito importante que a pessoa – neste caso o seminarista –, analise e se responda se é ou não “dependente” da Internet . Ou seja, se consegue dominar as emoções e impulsos que os sites e as redes sociais geram, seja quando se está conectado, como também quando se deve passar longos períodos off line.
Para a especialista, o domínio e o equilíbrio é vital, porque em uma sociedade “Tecnolíquida”, segundo a definição recente do psiquiatra italiano, Tonino Cantelmi, os diversos dispositivos podem manter as pessoas em uma conectividade permanente, onde é difícil distinguir os limites ou o tempo passado, em detrimento de outros fins ou obrigações.
A teoria do “tudo e rápido”
Outro risco que o navegante moderno encontra, é a tendência a encurtar as coisas e evitar os encontros. Ou seja, se por uma mensagem de texto podemos explicar alguma coisa rapidamente, por que estender-se ou aprofundar? Ou pior ainda, se temos tantas plataformas de comunicação instantânea, para que encontrar-nos?
Também o usuário, na sua necessidade de estar conectado, pode perder a atenção do que as pessoas lhe falam, por exemplo, numa aula ou conferência, por estar pendente do modo rapidíssimo de como continuam a interagir os seus contatos e listas de interesses “lá fora”.
O fato de não poder se desconectar (switch off), já é um sinal de que deve ser observado… Porque nem hoje e nem no passado, foi possível estar num lugar e ao mesmo tempo em outro – fora –, não porque a internet não te deixe fazer isso, mas porque as normas básicas de convivência ou da vida comunitária te exigem. Mas para alguns – isso sim é de ontem e de hoje –, sua necessidade pessoal está por acima da dos demais, o que é um mau sinal…
O que mais oferece a Internet? Segundo a doutora Pensavalli, te oferece emoções – até mesmo fortes –, relações – não sem perigos – e te facilita as coisas para sair do “tédio”. Para outros, o tempo passa mais rápido conectando-se à rede, por tanto ajuda a evadir-se; enquanto que para um grupo de usuários é a porta entre o privado e o público, cuja chave se abre ou fecha de acordo com a conveniência ou a vontade.
Sobre isso, foi clara em advertir que, como emissor e dono das suas conexões de internet, o usuário se predispõe a evitar o que ele não gosta e a eleger só aquilo que não lhe chateia; assim como selecionar o que não lhe coloque tenso e nem lhe faça refletir muito. Ou seja, a ambivalência toma conta da pessoa, e assim quando se vivem as relações humanas, e diante de uma situação real de convivência, em que se exige mais da mesma pessoa, chega-se a acreditar que é hora de “desligar a conexão” e basta…
Amizades perigosas
Tudo na internet parece tão fácil e acessível, que o usuário começa a clicar onde não deveria se aproximar nem um pouquinho, ou a “aceitar” convites de amigos que não tem nem a menor ideia de quem sejam.
Na internet todo mundo é igual, pelo menos, naqueles locais de acesso público e gratuito. Mas nem todos somos o mesmo, foi outra ideia da doutora Michela Pensavalli, pois as redes fazem surgir na pessoa o seu lado mais narcisista, exibicionista e sem dúvida, o voyeurista.
Somos assim nas relações cotidianas, por assim dizer, física? Na verdade não, de modo que o uso compulsivo da rede (líquido, sem padrões ou limites), às vezes nos obriga a mudar de atitude para interagir, de tal forma que aparecem também tendências patológicas …
Só para citar os graus mais baixos de cada tendência – porque os mais altos são para correr deles –, pode-se identificar o narcisismo só no fato de colocar a “melhor foto” no perfil de uma rede social, tanto faz se é antiga ou que não esteja de acordo com a realidade atual (foto sem camisa clerical, sem a família, no exterior).
No caso de exibicionismo, aí estão as conquistas ou os comentários expressos sem medida, só pelo fato de que podemos também incluí-los nas nossas contas, independentemente de se os outros querem tanto bombardeio “made em mim mesmo”.
E uma terceira tendência comentada pela especialista – não menos grave, dependendo da pessoa – é o voyeurismo, ou essa antiga obsessão por olhar sem que nos vejam; ainda que hoje em dia, graças à Internet, pode-se fazer de modo consentido, falsificado ou pago sem controles. Ela alertou para o alto consumo do chamado “cybersexo”, que de acordo com dados dos EUA, no mundo, consome-se 3.000 dólares de pornografia por segundo.
É necessário considerar, portanto, o risco que significa que uma pessoa possa ser o oposto a si mesma na rede, distanciando-se dos seus princípios, obrigações e faltando com a confiança dos superiores. Pois muitas vezes estes toleram o uso da internet com a esperança de que ajude para aprofundar no estudo, para combater a distância recebendo mensagens dos familiares e amigos de bem, ou para dar os “primeiros passos” de uma futura e urgente pastoral na rede.
Uma conclusão clara foi que o mundo atual do ciberespaço, é um mundo onde se pode viver, mas cuidando a qualidade do uso que se faz e não deixando-se dominar pelos impulsos que este gera. E, assim como ontem, não confundir nunca o instrumento com a mensagem…
Fonte: Zenit
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