quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Doutor em comunicação fala da abertura de Francisco à imprensa

Silvonei José destaca que Francisco fala menos, mas faz gestos concretos que suscitam interesse não só da mídia cristã, mas da mídia em geral
A renúncia do Papa Bento XVI e a eleição do Papa Francisco estiveram entre os assuntos mais destacados pela imprensa nacional e internacional em 2013. A atenção da mídia, contudo, não se limitou a esses acontecimentos.
Em menos de 1 ano de pontificado, Francisco ter sido escolhido “personalidade do ano” de 2013 pela revista americana “Time”, eleito o quarto homem mais poderoso do mundo pela revista “Forbes”, e ter mais de 12 milhões de seguidores no twitter, mostram que o Papa tem sido constantemente foco dos meios de comunicação.
Desde que foi eleito Papa, Francisco tem demonstrado grande abertura à imprensa. Em sua primeira viagem internacional, ao Brasil, em julho de 2013 surpreendeu ao conceder uma entrevista exclusiva à Rede Globo. Depois disso já foram pelo menos três entrevistas a veículos italianos: em 19 de setembro à Revista jesuíta La Civiltà Cattolica, em 1º de outubro ao La Repubblica e em 15 de dezembro ao La Stampa.
Três dias depois de ter sido eleito o sumo pontífice da Igreja Católica, Francisco recebeu em audiência os jornalistas que estavam em Roma por ocasião da sucessão papal, agradeceu-os e os chamou de amigos.
A linguagem usada pelo Papa cativou os profissionais, recorda o jornalista da Rádio Vaticano, Silvonei José. “Nossos colegas, quando foram pela primeira vez ao encontro do Papa Francisco, voltavam com aquele sorriso nos lábios dizendo que algo de novo se respirava no Vaticano porque era um Papa da comunicação.”
No discurso naquela ocasião, o Papa destacou três pontos semelhantes entre a missão dos jornalistas e da Igreja. “O vosso trabalho requer estudo, uma sensibilidade própria e experiência, como tantas outras profissões, mas implica um cuidado especial pela verdade, a bondade e a beleza; e isto torna-nos particularmente vizinhos, já que a Igreja existe para comunicar precisamente isto: a Verdade, a Bondade e a Beleza ‘em pessoa’”.
Silvonei, que é Doutor em Comunicação, professor universitário em Roma e há mais de 23 anos trabalha na Rádio Vaticano, observa que o Papa Francisco fala menos, mas faz gestos concretos. “Eu creio que esta linguagem que ele está criando agora, da gestualidade, esses gestos impactantes que ele faz, suscita interesse não só na mídia católica, cristã, mas na mídia laica em geral, porque ele tem uma comunicação que vai a 360 graus, atinge a todos.”
O jornalista destaca as expressões do dia a dia, que o então cardeal Bergolio usava no seu trabalho pastoral em Buenos Aires, e que levou para seu papado e para Europa. “Ele está trazendo palavras antigas, mas quem sabe  para o velho continente sejam palavras novas, porque está tocando o coração de muita gente”.
Mas o que mais impressiona Silvonei na comunicação de Francisco é a capacidade de, mesmo falando para multidões, falar para cada um individualmente. “Parece que o Papa está se dirigindo à minha pessoa.” Ele defende que esta é uma das novidades do atual Pontífice. “Inclusive no contato físico. Quando ele está perto de alguém, ele está com a pessoa e quando está no meio da praça São Pedro, com milhares e milhares de pessoas, ele identifica a pessoa que está na frente, é essa pessoa com quem ele se entretém, conversa, dá atenção.”
Distorção das palavras do Papa
Mesmo diante da transparência das palavras e gestos de Francisco, em algumas ocasiões suas falas, retiradas de um contexto, geraram polêmica, não sendo bem compreendias por toda imprensa.
Um exemplo foi a entrevista concedia em setembro à Revista jesuíta italiana La Civiltà Cattolica. “Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contraceptivos”, disse o Papa ao refletir sobre o arrependimento de mulheres que praticaram o aborto e o modo como elas são recebidas no confessionário, que não é um lugar de tortura, segundo o Papa, mas sim “lugar de misericórdia”.
A declaração levou alguns a suporem que haveria uma revolução, uma abertura da Igreja para o aborto. Na verdade, o próprio Pontífice esclareceu a questão na frase seguinte, da mesma entrevista: “De resto, o parecer da Igreja é conhecido e eu sou filho da Igreja, mas não é necessário falar disso continuamente”.
“Criou-se essa expectativa: Francisco vai revolucionar a Igreja, transformar a Igreja. Ele não tem nenhum interesse nisso. O Papa quer transformar o coração das pessoas”, esclarece Silvonei.
Para ele, a grande revolução que o Papa Francisco propõe é a revolução do coração das pessoas. “Naturalmente, a imprensa tem a expectativa de gestos impactantes, mas sobre a questão da doutrina não vai mudar uma vírgula, porque não tem o que mudar, nós temos 2 mil anos de história”.
Para o professor em comunicação, deve-se seguir o Papa Francisco, mas também desconfiar do que a mídia apresenta como suas palavras. Ele destaca que é importante verificar se realmente o Papa disse ou escreveu algo.
“O que acontece muitas vezes na mídia? Pegam-se palavras, frases do Santo Padre tiradas de conceitos muito mais abrangentes e colocam como se fossem verdades novas,  aí pode causar realmente na cabeça das pessoas um certo desentendimento, de não entender o que está acontecendo.”
Para concluir, o jornalista destaca que para a mensagem de Francisco produza frutos, cada católico deve assumir seu papel, e se isso não acontecer, os “belos” gestos do Papa serão esquecidos.
“Nós vamos ver belíssimos gestos que nos comovem, mas no dia seguinte já esquecemos. Não é isso que o Papa Francisco quer, ele quer que as pessoas se transformem”.
Fonte: Canção Nova

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